sábado, 18 de março de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #8: O NÃO DO AMOR DÓI MUITO

PARTE 21 - MI CHICO LATINO
Não seria irônico o fato de eu estar sozinho faz um bom tempo e quando descobri minha sorologia os aplicativos de pegação começaram a bombar? Mas eu não estava disposto. Não estava disposto a abrir minha nova condição pra quem eu fosse ficar e não conseguiria manter algo sem falar. Me sentiria a pessoa mais desonesta do mundo. Iniciar algo baseado na mentira nunca me pareceu uma boa ideia.
Anos atrás eu conheci um menino argentino, lá em Paso de Los Libres, cidade vizinha aqui de Uruguaiana. Fomos em um grupo de amigos na casa dele. Muito querido, bonito e inteligente. Mas eu sabia que ele tinha um relacionamento. Além disso, eu não sou o tipo de cara que parte pra cima. Então nunca me manifestei, até que um belo dia, quem me “cutuca” no Facebook? Ele mesmo.
Depois de uma séries de cutucadas mútuas, nos falamos. Ele não tinha sido o primeiro que tentou comunicação comigo. Mas eu respondi suas “cutucadas” justamente por saber que seu ex-namorado era soropositivo, mas sabia que ele não era. Um relacionamento sorodiscordante parecia algo viável então.
Conversamos muito e ele me convidou para ir até Libres. Apesar de ser uma cidade vizinha, são minutos para atravessar apenas uma ponte que nos separava. Eu fui. Lá estava ele. Lindo, bom papo... Ficamos horas e horas apenas conversando. Mas por mais que eu soubesse que para ele um ficante soropositivo não seria algo de outro mundo, eu travei. Não consegui contar, fiquei com medo, receio. E se ele me mandasse embora? E se ele me dissesse que eu fui desonesto?
PARTE 22 - HASTA MAÑANA
Nós ficamos. Eu nunca fui tão travado na minha vida. Nunca fui tão sem reação. Mas não tivemos nada de mais. Nada que pudesse me deixar com a consciência mais pesada por omitir minha nova condição. Eu posei lá, me acordei no domingo com café da manhã. Lindos e deliciosos croissants. Se tem algo que é uma delícia na Argentina é sua gastronomia. Fui embora me sentindo bem... Me sentindo feliz. Mas ao mesmo tempo me cobrando. Ao mesmo tempo achando que fui irresponsável.
Porém, nós seguimos nos falando diariamente. Durante a semana, ele me convidou para ir adivinha onde? Naquela festa do meu amigo que teria no próximo sábado. Não pude dizer não. Além dele, uma amiga muito especial - aquela que foi me visitar na primeira semana, também estaria lá. Então fui pegar os dois ingressos VIP’s que estavam separados para mim. Meu amigo, o dono da festa, ficou muito feliz que eu iria. O combinado era: irmos para a festa e depois eu voltaria com ele para Libres. Na minha cabeça seria um momento bom para tentar recomeçar, ver amigos antigos e esquecer um pouco o que estava acontecendo.
Ele veio de Libres de táxi até minha casa. Da minha casa até o clube são apenas duas quadras. Mas só pensava que eu tinha que contar pra ele, e teria que ser ao vivo, não era o tipo de coisa para contar por mensagem. Se levássemos isso para um outro nível e eu não contasse, me sentiria um lixo. Mais ainda.
Eu não conseguia interagir muito com ele. Eu acho que a preocupação de contar pra ele tomou conta de meus pensamentos e nada desenvolvia. Durante a festa diversas vezes pensei em contar, mas eu congelava. Passei uma noite toda brigando comigo. Ele obviamente percebeu que algo estava errado.
Bom, chegou a hora. Ele me convidou para ir embora. “Vamos até minha casa e esperar o táxi na frente”, falei. O táxi demoraria uns 20 minutos, tempo suficiente para contar tudo para ele. Até que contei. Gago. Sem olhar em seus olhos. Ele me disse depois de um longo suspiro: “bom Léo, eu já tive um relacionamento de anos com um soropositivo. É algo complicado”. Nisso chegou o táxi. “Mas te agradeço por ser verdadeiro comigo e me falar”, ele completou, apertou a minha mão e disse “depois conversamos mais”. Foi embora.
Voltei pra casa.... Fui até a sacada, acendi uns três cigarros sem intervalo.... Fumei, chorei. Pensava comigo: “idiota, o que te fez pensar que ele aceitaria isso?”. Foi um misto de ódio, pesar e tristeza. Uma rejeição não pelo que sou, mas pelo que eu tenho.
Semanas depois ele me mandou uma mensagem no Facebook dizendo: “te devo uma conversa”. “Quando quiser”, respondi. Nunca mais nos falamos.

Continua...

Um comentário:

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