terça-feira, 14 de março de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #6: AGORA MEU MEDO É O CD4

PARTE 16 - ATIVO OU PASSIVO?
Finalmente chegou o dia da minha consulta com o infectologista. 7h da manhã e minha mãe e eu já estávamos lá no Centro de Saúde esperando o médico. Não só nós, mais uma galera junto. Como ele é um infectologista, nem todos seus pacientes são soropositivos, mas grande parte sim. Nós temos preferência de atendimento.... O que nos gera eventualmente uma situação de constrangimento quando dos chamam para saber a ordem que seremos atendidos. “Ah, você é do COAS”. Logo todos deduzem que você é portador do HIV.
Depois de muita espera e um pouco de atraso - mas não tanto como na UNIMED, eu entrei na sala do doutor. Entrei sozinho desta vez. Respondi uma série de perguntas, algumas do tipo, “você foi o ativo ou o passivo?”. É estranho... Muito estranho, mas necessário. Afinal, são esses dados que revelam os índices que lemos e tomamos conhecimento.
Estranhamente o médico me orientou a manter em segredo. Segundo ele o preconceito com soropositivos é muito grande. Eu entendi a mensagem que ele quis passar mas achei um tanto inoportuno, ainda mais lembrando disso hoje. O fato é que isso é uma decisão muito pessoal.
PARTE 17 - TUDO PELO SUS
Como já poderia imaginar, o médico me indicou uma série exames de sangue, raio-x do tórax, etc... Tudo pelo SUS. Então logo já comecei a marcar as datas: os de sangue, que eram muitos, seriam na próxima quarta, muito cedo da manhã; o exame do raio-x na Santa Casa, pela tarde.
Nos exames de sangue eu fui sozinho... Cheguei no posto praticamente 7h da manhã e quase não peguei ficha. Deveria ter ido mais cedo. Fui ser atendido às 10h30. Tive que inclusive cancelar uma aula de Personal Trainer que eu tinha às 10h. Nesse dia também tinha que levar o material coletado para o exame de fezes e urina. Pode parecer bobagem, sei que é, mas eles podiam ter mais cuidado com o material coletado. Eles pegam seu material na frente de uma multidão, deixam suas fezes em cima do balcão e seguem te perguntando coisas. Mas tirando essa situação, foi tudo tranquilo. No mesmo dia pela tarde o raio-x também. Demorado, mas tranquilo. Na verdade dormi na sala de espera e minha mãe me chamou na hora.
PARTE 18 - AMIGOS DO COAS
Eu teria que voltar para a consulta quando tivesse todos meus exames prontos. Então esperei alguns dias e retirei meus exames de sangue, fezes, etc. O de raio-x foi um parto. Fiquei mais de semana indo retirar diariamente e nunca estava lá segundo a atendente. Ela chegou inclusive a me mandar perguntar na Santa Casa - os resultados são pegos no Centro de Saúde. Acreditam que todo o tempo que ia lá pedir o meu raio-x ele estava lá? Tive que mentir que fui na Santa Casa para a menina procurar melhor e achar o resultado.
Nesse meio tempo comecei a conhecer melhor o pessoal do COAS e identificar rostos já familiares no Posto de Saúde. Na entrada já tinha um ex-namorado, no COAS quem me fez o teste de tuberculose foi uma aluna de hidroginástica. Ou seja, comecei a perceber que o anonimato do vírus não duraria muito.
Com tudo em mãos, marquei novamente uma consulta com o infecto. Levei todos os resultados. Mas lá tive outra surpresa. Cadê meu exame de hepatite? Sumiu. Na verdade, não em entregaram. Eu, como vi um monte de papel, nem conferi se estava tudo lá. Mas, me comprometi de levar outro exame de hepatite - ou encontrar o desaparecido. Com tudo certo nos exames restantes, salvo algumas infecções - incluindo um princípio de infecção pulmonar leve, o médico me receitou nebulizações, alguns remédios e já marcou meu primeiro exame de CD4* e Carga Viral**, isso nortearia todo meu tratamento. Essas informações finalmente dirão como meu corpo está reagindo ao HIV e em que estágio de saúde realmente me encontro. Medo deste exame. Medo dos resultados. Medo, apenas medo.

Continua...

* CD4 - A contagem de células-T CD4 não é um exame de HIV, é mais um procedimento em que o número de células-T CD4 em um microlitro de sangue é contado em um teste laboratorial médico padrão, depois de uma retirada de sangue. Este exame não checa pela presença do HIV. Ele é usado para monitorar a função do sistema imunológico em pessoas de HIV positivo. Em tais indivíduos, a AIDS é oficialmente diagnosticada quando a contagem cai para abaixo de 200 células ou quando certas infecções oportunistas ocorrem.
**Carga Viral - Carga viral ou PCR Quantitativo para o HIV é um exame que conta indiretamente a quantidade de vírus presente no organismo através da quantificação de RNA viral presente no plasma sanguíneo. Esse processo é feito por amostragem. O ideal é que a carga viral seja sempre “indetectável”, “indeterminada”, “zero” ou próxima disso.

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