segunda-feira, 13 de março de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #5: PARECIA QUE AS PESSOAS ME OLHAVAM SE DESPEDINDO

PARTE 13 - ATESTADO DE ÓBITO
Sexta-feira, depois de trabalhar pela amanhã e do almoço, eu tinha minha primeira consulta com o médico da UNIMED. Minhã mãe foi comigo. Aliás, tenho que salientar: minha mãe me acompanhou em todas consultas e atendimentos iniciais. Pediu licença do trabalho para poder me dar esse suporte.
Bom, ficamos horas e horas esperando atendimento na UNIMED. O doutor que me atendeu foi um querido. Na verdade, ele já tinha me atendido quando apresentei problemas de hipoglicemia em outra ocasião. Entrando na sala ele brincou: “Ai ai, veio com a mãe então o assunto é sério”. Enquanto eu esboçava um sorrisinho sem graça, minha mãe falou, “estamos com esse problema”, entregando meu exame.
Ele me olhou e completou: “bom meu rapaz, você sabe que alguns anos atrás isso aqui que você me trouxe era um atestado de óbito... hoje não mais”. Depois de alguns esclarecimentos, ele reforçou, “se preocupem mais com uma infecção intestinal do que com uma gripe. Uma infecção pode derrubar ele”. Além disso, ele nos indicou ir ao Centro de Saúde Central e iniciar imediatamente os procedimentos pelo SUS para combater o HIV.
PARTE 14 - OI, TENHO HIV
Saímos da UNIMED e fomos para o Centro de Saúde pedir para fazer o exame de HIV. Segundo o doutor da UNIMED, eu poderia chegar como se não soubesse do resultado e pedir para fazer o exame. Foi o que fizemos, fomos até o COAS, o departamento responsável pelo HIV no Centro. Chegando lá eu perguntei se poderia fazer um exame de HIV. A atendente nos falou que o atendimento para exames são feitos apenas pela manhã e eu deveria voltar na segunda. Então saímos da recepção frustrados. Eu olhei para minha mãe e falei: “quer saber, não vou esperar até segunda”. Voltei até o balcão e falei para a atendente: “seguinte, eu fiz esse exame em um laboratório particular e deu que eu tenho HIV, que procedimento devo seguir?”.
Acho que a atendente viu meu desespero. Pediu para eu esperar um pouco e voltou dizendo que abririam uma exceção já que eu tinha um exame em mãos. Não se pode marcar consulta antes de ter duas confirmações de reagente para HIV feitas no próprio posto. Mas naquele caso eu já tinha duas confirmações: uma do laboratório particular; a segunda que eles mesmos confirmaram em PoA; e ainda, para me deixar três vezes reagente, fiz uma no posto que confirmou o resultado.
Sem questionamentos. Sem margens de erros. Efetivamente portador do HIV.
PARTE 15 - NÃO CHORE PAI
Então fui indicado pelo COAS para fazer minha carteira do SUS e depois retornar para marcar consulta. Consegui uma consulta para a próxima segunda, bem cedo da manhã, com um infectologista. Lá ele me pediria uma bateria de exames para iniciar meu tratamento.
É importante dizer uma coisa: o tratamento contra HIV/AIDS é totalmente gratuito pelo SUS. Você pode fazer os exames em laboratórios particulares, mas os medicamentos não são comercializados. Ou seja, apenas se consegue eles pelo SUS.
Chegando em casa, minha mãe assustada com algum problema intestinal, já comprou um galão de água mineral, que agora se faz sempre presente e minha alimentação, da qual eu já era muito cuidadoso, ficou ainda mais restrita.
Meu pai, coitado, não podia me ver que chorava... ficou assim por uma semana. Minha mãe se mostrava forte e otimista, mas eu sabia que ela fazia o mesmo que ele, só que não em minha frente. Minha amiga que foi na minha casa no fim de semana me visitar também. A impressão que eu tinha era que as pessoas me olhavam como se estivessem se despedindo. Eu pensava.... “Quanto tempo a mais eu tenho afinal? Quem sabe com o tratamento eu tenha um pouco de tempo a mais....”
Continua...

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