segunda-feira, 3 de julho de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #19: NENHUMA DECISÃO FOI MELHOR QUE ABRIR MINHA SOROLOGIA PARA OS LGBT’S

PARTE 45 - A CHAVE DE TUDO
No início de fevereiro de 2015 eu fui até o aniversário da esposa do meu tio, irmão da minha mãe. No fim da janta ficamos só nós, eles, minha irmã e eu. Achei que era uma oportunidade boa para contar sobre minha sorologia. A verdade era que ela saberia logo mesmo, como assistente social não demoraria muito ... De várias formas possíveis. Além disso, eu tenho um carinho muito grande eles. Esse meu tio tenho como um irmão mais velho, com um pouco mais de idade do que eu. Crescemos juntos, como irmãos mesmo. Com sua esposa tenho muita afinidade também. Aliás, sou padrinho da segunda filha deles. Como pretendia abrir mesmo para minha família, nada mais justo que eles fossem os próximos.
Para ela foi tranquilo, até por ser assistente social. Ela conhece diversos casos de soropositivo e sabe que hoje em dia a doença não mata ninguém caso o tratamento seja feito corretamente. Já ele, que não tinha muita informação ficou em choque. Não em minha frente, mas fiquei sabendo que ele ficou um pouco triste durante alguns dias, chorou......
Tivemos duas reações: uma de uma pessoa com informação, mais tranquila e outra de alguém sem muita informação, com medo e sofrimento. Não tem jeito, a informação é a chave de tudo. A informação previne, ajuda a tratar e ameniza sofrimento. As pessoas tem que parar de ver o HIV como era nos anos ‘80 e ‘90. Não estamos mais lá. Depois disso passei a bombardear meu Facebook com reportagens, vídeos e entrevistas. As pessoas precisam saber a realidade atual. Precisam mudar essa visão do soropositivo como um doente terminal.
PARTE 46 - A MISSÃO
Pouco tempo depois disso eu fui surpreendido por uma mensagem de um amigo. “Léo, eu não sei como começar, preciso muito de sua ajuda, mas preciso que me prometa que guardará sigilo”. Esse menino me revelou que seu namorado se descoberto soropositivo. Meu amigo não é portador do vírus, seu namorado adquiriu enquanto os dois estavam separados. Mas este caso tinha algo muito peculiar: o namorado deste meu amigo, estava com seu CD4 em média de 250. Sua carga viral não era indetectável. Eles sabiam disso por exames de laboratório. Quando falei com meu amigo por telefone eu senti todo seu pavor e o medo de perder seu namorado. “Ele é tudo pra mim e não quero perder ele, ele não pode morrer”.
Ele tinha razão, 250 de CD4 é um número muito perigoso. Ele já deveria ter começado o tratamento. Mas não tinham ideia do que fazer exatamente, onde ir, com quem falar... Sequer tinham a carteira do SUS. Então me ofereci e levei eles até o COAS. Pedi que trouxessem os exames para evitar todo o procedimento, já que ele até já tinha feito inclusive os de CD4 e Carga Viral.
Num intervalo entre minhas aulas levei eles até o posto de saúde, fui até o COAS, os levei para fazer a carteira do SUS, marcamos uma consulta e no outro dia ele já foi consultar. Imediatamente ele começou o tratamento. Pouco tempo depois sua Carga Viral ficou indetectável e seu CD4 subiu.
Foi importante e gratificante algum tempo depois e ver os dois juntos, felizes e o menino com aparência saudável e feliz. Foi tão confortante perceber que eu utilizei algo que já teria me feito tão mal para ajudar um outra pessoa que estava perdida, sem saber para onde ir. Definitivamente, a melhor coisa que eu tinha feito desde que soube de minha sorologia foi abrir ela no meio LGBT. A missão realmente estava começando.

Continua...

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