quinta-feira, 6 de julho de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #21: É HORRÍVEL QUANDO ALGUÉM MORRE DEVIDO AO MESMO PROBLEMA QUE VOCÊ TEM

PARTE 49 - IMORTAL
Certo dia, próximo ao inverno de 2015, recebi uma mensagem de uma amiga. Uma amiga que há muito tempo não conversava, mas que eu tenho muita consideração e carinho. Eu não tinha ainda falado sobre minha sorologia para ela, mas eu sabia que ela conhecia minha verdade. Uruguaiana é uma cidade pequena.
Em sua mensagem dizia: “Léo, preciso de sua ajuda”. Bom, eu na hora pensei que pudesse ser algo relacionado ao HIV. Estava certo. Mas logo ela me esclareceu que o problema não era com ela. Me pedindo sigilo e muito preocupada, ela me revelou que seu pai se descobriu portador do vírus.
Ele, um senhor praticamente idoso, acabou recebendo essa informação após fazer uma bateria de exames. Minha amiga, assim como todos seus irmãos e mãe, estavam em choque. Ele teria contraído o vírus após uma relação extraconjugal desprotegida. Todos estavam perdidos, sem informação, com medo, sem conhecer outros soropositivos e sem saber o que fazer.
Ela estava particularmente muito abalada, já que via nele uma figura muito forte e tinham um relacionamento muito carinhoso. Ficamos horas conversando e isso se repetiu durante dias. Tentei acalmar ela e sua família com informação e explicando a importância da adesão ao tratamento. Mas ele, com toda sua idade e fragilidade, se deixou abalar demais pelo vírus.
Primeiro, ele descobriu muito tarde o que estava acontecendo. Após os resultados de seus exames, passou por uma depressão terrível, não conseguiu aderir ao tratamento e estava com o quadro de AIDS cada vez mais problemático. Eu me ofereci para ir conversar com ele e sua família, para tentar acalmar e verem que tudo pode dar certo. Minha amiga achou que poderia o deixar constrangido e ainda pior, já que ele não aceitava sua nova condição, quanto muito abrir ela para outros.
Uma madrugada, pouco tempo depois de tudo isso eu recebi uma mensagem: “Léo, meu pai faleceu hoje”. Eu fiquei arrasado. Senti como se eu tivesse falhado. Chorei por dias. Só pensava que poderia ter feito mais... Informado mais, ajudado mais.
Eu já sabia de casos de óbito por doenças oportunistas mas nunca tomei conhecimento de alguém próximo, de algum caso que afetasse a vida de alguém que eu gosto muito. Ele faleceu por ter o mesmo vírus que eu. Nesse momento eu lembrei, da pior forma, que o que tenho pode sim me matar. É terrível ver alguém tombar na mesma batalha que você luta, tendo o mesmo adversário.
Ele não era imortal. Eu também não sou.

Continua...

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