quarta-feira, 12 de abril de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #12: EU SABIA QUE MINHA SOROLOGIA NÃO SERIA SEGREDO

PARTE 29 - NINGUÉM SABE
Em meio ao início do tratamento, chegou meu primeiro dia 1º de dezembro como soropositivo. Para isso eu quis preparar algo especial... Seria um começo de uma militância. Se bem que sempre, desde o Orkut, eu falava sobre prevenção do HIV, mas eu era muito ignorante a respeito. Apenas falava sobre usar camisinha e pronto. Não sabia nada mais aprofundado.
Um amigo que também é soropositivo me dizia: “Léo, não fica postando essas coisas assim, todo mundo vai perceber. Eu mesmo tenho HIV faz 10 anos e ninguém sabe”. Coitado. Eu só lembrava do dia que conheci ele.... No momento que ele virou as costas já me contaram sua situação. Conheci ele como soropositivo. Aliás, todos soropositivos que conheço eu fiquei sabendo de suas sorologias no momento em que os conheci. Não por eles. Quanto tempo eu teria para ser descoberto? Será que valia a pena eu me enganar assim? Me iludir achando que numa cidade pequena como Uruguaiana ninguém saberia? Esse segredo nunca me pareceu algo que duraria muito. De fato não durou.
Mas, o que importa é que mesmo sabendo de possíveis suposições e especulações, comecei a fazer da minha maneira uma militância virtual. A grande motivação é que você quer evitar que outras pessoas passem pelo que você está passando. Por outro lado, percebo da dificuldade das pessoas em compartilhar qualquer link ou postagens relacionadas ao HIV. Talvez por medo de serem vinculadas ao vírus, isso é um tanto quando frustrante. Mas, pelo menos estava começando algo que poderia ficar maior.
1º de dezembro de 2013: a primeira de muitas postagens que viriam.

PARTE 30 - ENTÃO É NATAL
Natal chegando.... Fim de ano chegando... Cada vez que eu escutava aquela infame música natalina da Simone me perguntando o que eu tinha feito em meu ano eu tinha vontade de mandar ela bem longe.
Sempre achei o Natal uma data triste, por diversas razões. Esse ano seria um dos piores. Como de costume iria ara casa de meus avós. Todos ali, felizes, e eu pensando no que estava acontecendo com minha vida. Eu estava em qualquer lugar, menos ali com eles. Além de visivelmente afetado pelo medicamento.
E assim fiquei até meia noite quando antes de abraçar qualquer pessoa eu engoli dois comprimidos. Não podia esquecer.... Nunca podemos esquecer. “Feliz Natal, tudo de bom mimoso”. Eu, com os olhos cheios de lágrimas, engolindo o choro só sorria com o canto da boca. Qualquer tentativa de palavras seria uma choradeira. Ninguém sabia de nada além de meus pais e meus irmãos. Acho que consegui enganar um pouco.
Na espera do ano novo algo bom veio junto: o fim de 2013. Eu só queria que esse ano terminasse. Que tudo fosse diferente. Que eu tivesse certeza que eu ficaria bem e responderia bem ao tratamento. Que eu parasse de sair da academia e vomitasse dobrando a esquina. Que eu não cochilasse mais enquanto pedalava. Que eu não precisasse mais fingir que estava tudo bem. Tudo tinha que estar bem.
O ano que chegava veio como uma esperança, de mudanças e uma fé renovada de que minha saúde estaria melhor. Meia-noite novamente tomei meus comprimidos, fui a pé para minha casa, me deitei e dormi.

Chega! 2013 finalmente terminou.

Continua...

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