domingo, 12 de março de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #4: ACHEI QUE MORRERIA EM DOIS MESES

PARTE 10 - BOA NOITE
Depois de muito choro, abraços e promessas de apoio, era a hora de dormir. Talvez esse tenha sido o dia mais longo da minha vida. Talvez um dos piores. Como dormir? Depois de um turbilhão de emoções eu estava esgotado... Mas sem sono. Eu ainda estava muito abalado, principalmente depois de conversar com minha família.
Deitei, fechei os olhos no escuro. Então eu chorei. Chorei até dormir. Chorei tanto que nem lembro quando as lágrimas pararam. Só apaguei. Antes disso, enquanto chorava eu só pensava: “por quê??”. Eu tentava lembrar em que momento eu derrapei... em qual momento eu poderia ter contraído o HIV. Muitas dúvidas do passado, do presente (como por exemplo no que isso influenciaria minha vida efetivamente) e do futuro, afinal, na minha cabeça eu poderia morrer em dois meses. Parece piada, mas quando você recebe uma notícia dessas a primeira coisa que vem na cabeça é que você vai morrer logo.
Muitos medos também. Medo de ter que parar de trabalhar, logo em meu momento de ascensão profissional. Medo de não ver minha sobrinha que mal tinha completado um ano crescer. Medo de perder emprego, amigos, respeito de todos. Medo que todo mundo soubesse. Que eu virasse o “aidético” da vez. Medos, medos e medos.
PARTE 11 - UM NOVO DIA CHEGA
Uma boa noite de sono ajuda a regular seus pensamentos, ainda mais que no outro dia 8h eu já tinha que dar aula de hidroginástica. Aliás, tinha que dar uma às 8h e outra às 9h, além de uma aula de bike indoor as 10h30. Manhã cheia. Não dava tempo para ficar muito triste. Mas eu percebi uma coisa: eu me sentia o mesmo de terça-feira. Ou seja, seguia a mesma pessoa mesmo com o HIV dentro de mim. Isso me fez ver tudo de ângulo diferente, além de me incentivar a procurar informações sobre o vírus.
Confesso, eu era um ignorante sobre o tema. Por mais que eu volta e meia postasse material de conscientização, eu não sabia nada mais aprofundado. Era a hora de saber. Uma pena que eu tenha me dedicado depois de saber de minha sorologia, esse conhecimento poderia ter me deixado mais calmo logo de início, e talvez eu pudesse confortar melhor minha família com posições otimistas. Meu pai por exemplo, durante essa quinta-feira, não podia me olhar que chorava. Parecia mais abalado que eu pra ser sincero.
PARTE 12 - A REDE
Então, quando cheguei em casa minha mãe me avisou que tinha marcado uma consulta para mim na UNIMED. Além disso, me sentei no PC e enfrentei longas horas de pesquisa, leitura e estudo sobre o HIV. Descobri coisas que nem imaginava que existiam, como diferença entre HIV e AIDS, o que é CD4, carga viral, Efavirenz, entre outros nomes.
Mesmo assim, tudo seguia muito confuso. Eu precisava trocar ideias com outros soropositivos. Precisava saber que podia dar certo. Eu tinha que ter certeza que não seria o fim. Só poderia saber interagindo com outros. Então pensei, “se tem várias redes sociais com os mais variados temas, deve ter um sobre HIV/AIDS”. Eu estava certo, achei dois sites. O primeiro achei muito focado em amor e relacionamentos. Não era o que eu queria, aliás, o que menos pensava no momento era sobre namoro. Então achei um outro muito parecido com o Orkut, com fotos, perfil, interesses e fóruns. Bingo! Estava na rede HIV+ e um universo se abriu. Não estava mais sozinho, desta vez, dormi com esperança.
Continua...

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