sábado, 11 de março de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #2: NÃO TIVE CORAGEM DE ENCARAR MEUS PAIS

PARTE 4 - E AGORA?
Então você abre o envelope do laboratório e tem a seguinte palavra: reagente.
Eu parei, me encostei com as costas na parede e tremendo levei uma das mãos na cabeça. A outra mão segurava o resultado dos exames, dos quais eu não conseguia desviar a visão. Com frequência as pessoas me perguntam sobre como eu me senti nesse momento. É muito fácil... Sabe quando você leva um soco no estômago? Quando parece que todo o som a sua volta desaparece e você só escuta um zumbido? Tipo tevê fora do ar... Sua cabeça começa a ferver e você perde o controle da tremedeira. Então você engasga. O choro tranca na garganta.
Mas por um momento tentei me enganar. Eu pensei, vai ver “reagente” quer dizer que está tudo certo. Vou chegar em casa e verificar direitinho na internet. Foi o que eu fiz. Entrei porta a dentro depois de subir correndo as escadas. Meu ex-cunhado estava em casa, junto de meu tio. Fui direto para o meu quarto. Obviamente eles perceberam que tinha alguma coisa acontecendo.
PARTE 5 - BORA PARA A ACADEMIA?
Sentei no computador, mal conseguindo digitar e busquei no Google: “reagente HIV”.
Não é difícil de imaginar o que eu li. Então tudo que estava engasgado saiu da garganta. Eu chorei como uma criança. Me debrucei na mesa do PC e não conseguia organizar meus pensamentos. Nisso, meu ex-cunhado chegou. Assustado, ele me perguntou sobre o que tinha acontecido. Ele jamais tinha me visto daquela forma. Eu nem consegui responder, só dei o exame pra ele. Ele leu e disse: “calma, pode ter dado um erro”. Eu falei: “um erro duas vezes?” Acontece que quando meu exame deu positivo aqui na minha cidade, meu sangue foi enviado para PoA justamente para confirmação, logo eu tinha dois resultados confirmando que meu exame deu reagente para HIV.
Parei um pouco de chorar, comecei a me organizar e pensei: “sabe de uma coisa? Vou para academia treinar”. Foi o que eu fiz. Eu treinava em uma academia que ficava cerca de 6 minutos da minha casa, então cheguei rápido. Pensei que treinando eu poderia organizar melhor o que eu estava sentindo. Estava tudo muito confuso ainda. Muita informação. Só que chegando quem eu vejo de cara? Meu irmão.
Então chamei ele e fomos para uma sala que estava vazia. A cara de decepção de uma pessoa que você ama quando te olha numa situação dessas é terrível de encarar. “Mas como isso aconteceu?”, ele me perguntou. “Eu não sei”. Não sei até hoje.
PARTE 6 - CONTA PRA MIM?
Meu irmão me abraçou e disse: “bom, temos que começar o tratamento e contar para o pai e a mãe”. Ainda, ele me chamou para ir embora pra casa. A verdade é que eu não tinha condições de ficar lá.Chegando em casa fomos para meu quarto e ficamos esperando minha irmã que já estava por chegar do trabalho. Ela costumava chegar antes de minha mãe e depois ia para casa dela. Quando minha irmã chegou eu pensei, “lá vamos nós de novo”.
Minha irmã também me abraçou, chorou, perguntou se eu sabia como tinha acontecido, essas coisas. Fiquei com ela no quarto, olhei pra ela e disse: “eu queria ver tanto ela crescer”. Me referindo a minha pequena sobrinha que tinha pouco mais de uma ano. Ela me disse: “você vai ver ela crescer”.
Logo meus pais chegariam em casa. Eu tinha que contar pra eles. Mas tinha que trabalhar também. Eu dava aula às 18h, às 20h e às 21h. Eu não teria condições de ter essa conversa com eles e ir trabalhar simplesmente. Também, muito menos queria ver a cara e a reação dos meus pais ao receberem essa informação. Seria demais para mim, especialmente naquele momento. Então pedi para minha irmã contar para mim. Assim, quando eu chegasse em casa, depois das 22h, eles já teriam recebido e digerido a notícia. Seria mais fácil para mim, e para eles também. Pelo menos pensei assim naquele dia.

Continua...

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