quinta-feira, 13 de julho de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #26: NUNCA TIVE A INTENÇÃO DE FAZER NINGUÉM SOFRER

PARTE 58 - VÔ E VÓ
Meus avós tem mais de 70 anos. Os pais da minha mãe. Meu avô é tranquilo e sereno. Minha avó é agitada e sempre está trabalhando em algo. Ela faz bem o estilo matriarca da família. Talvez por isso seja uma pessoa muito preocupada com todos nós. A última vez que tive uma gripe minha avó ligava a todo o momento para saber como eu estava... ela é assim com todos nós.
Agora, imaginem ela saber que seu primeiro neto é portador de HIV. Para mim, e não só para mim, era mais do que ela poderia suportar. Eu pensava que expor minha sorologia para eles, era desnecessário e causaria dores de cabeça sem sentido. Afinal, no que mudaria em meu tratamento meus avós saberem de minha sorologia. Teria necessidade de trazer essa preocupação para eles?
Mas com o andar dos acontecimentos eu mudei minha linha de raciocínio. Passei a pensar: “não seria melhor eles saberem por mim, do que por outra pessoa?”. Enquanto meus avós não soubessem de minha sorologia eu jamais poderia abrir sobre ela como estou fazendo. Jamais poderia ajudar outras pessoas. Jamais poderia passar para um novo estágio de militância.
PARTE 59 - PRECISAMOS CONVERSAR
Eu já tinha conversado com meus irmãos sobre isso. Em algum momento eu teria que tornar minha sorologia pública, mas não tinha conversado com meus pais. Primeiramente chamei minha mãe. Nada mais justo, já que se tratava de seus pais. A princípio ela achou desnecessário. Mas entendeu meus argumentos. Eu precisava ajudar outros... Enquanto eu não tratasse o HIV com naturalidade como poderia querer que me tratassem assim? Era no mínimo incoerente. Como querer problematizar um assunto tão delicado se eu mesmo o deixo em segredo e cheio de tabu.
Era hora da pupa se transformar em uma linda borboleta. Era a hora de efetivamente abrir as portas deste segundo e ainda mais doloroso armário, não apenas para a comunidade LGBTTT, mas também para todos. Meu nome é Leonardo, sou soropositivo. Este sou eu. Sem dramas, sem mais ter o que esconder. Recebi o entendimento e apoio dos meus pais, como sempre.
Minha mãe apenas pediu para que ela mesma contasse para meus avós. Ela queria sentar tranquilamente, explicar minha situação, esclarecer sobre minha saúde, CD4 e Carga Viral. Mostrar que hoje posso ter uma vida normal e que vou seguir sendo o mesmo neto de sempre. Segundo minha mãe meu avô se manteve tranquilo, como bem imaginei. Minha avó, por sua vez ficou calada em estado de choque até eu ir embora. Provavelmente engasgada esperando ela ir embora para chorar.
Todo sábado visito meus avós. É tradicional. Na primeira visita após eu saber que eles descobriram sobre minha já não tão nova condição eu recebi um abraço e a frase: “nunca esquece que a vó te ama muito.”
Também te amo muito vó, também te amo muito vô.

Continua...

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