terça-feira, 11 de julho de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #24: JÁ ME PEDIRAM DINHEIRO POR SEXO POR CONTA DO HIV

PARTE 54 - SÓ PAGANDO
É incrível quando você começa a ver tudo com uma ótica mais positiva, o mundo conspira a seu favor.
Enquanto eu ainda não tinha percebido e aceitado 100% minha condição sorológica, parecia que tudo andava em marcha ré. Falo isso em relação a casos amorosos. Antes de eu começar a ver que eu tinha um problema que podia ser remediado, que eu poderia seguir vivendo e que um dia as pessoas finalmente me veriam não apenas como um portador do HIV, tudo acontecia ao reverso.
Eu já tinha em meus aplicativos minha sorologia. Mas sempre tinha um desavisado que não tinha lido. Depois de alguns minutos de conversa a pessoa dizia: “vi aqui que você é soropositivo, não me leva a mal, mas não vai rolar, não é nada pessoal”. Parece difícil de acreditar, mas recebi essas desculpas de um estudante de medicina e um de enfermagem. Que irônico, não? Tirando pessoas que eu já tinha ficado anteriormente e foram bem claras: “Léo, eu adorava ficar contigo, mas assim não dá”.
Começou a virar um hábito receber não. Chegava a ficar meses sem dar um beijo. Isso quando alguém aceitava ficar comigo mas sem beijos.... Aceitavam ficar desde que ninguém soubesse.... Ou ainda teve quem disse que só ficaria comigo caso eu pagasse, devido aos “riscos que eles corriam”. Não foi só um. Isso tudo no fim me deixou muito abalado. Mas no decorrer do tempo, comecei a pensar de outra forma.
Percebi que se eu não começasse a me dar valor, ninguém daria. Eu seria o menino com HIV que todos tem medo. Até que junto desta nossa visão, deste crescente de amor próprio e de um basta a todas essas humilhações, começaram a aparecer pessoas que aceitaram minha sorologia. Não sou burro de pensar que todo mundo passou a me compreender, mas sim, percebi que na medida que fui me abrindo e perdendo o medo, e encarando tudo com mais otimismo, outras pessoas também o fizeram.
Me diverti.... Eu aproveitei. Foi importante para minha autoestima que estava destruída. Que eu achava que com pouco mais de 30 anos já tinha terminado com minha vida sexual. É importante se sentir desejado. Mas se você não achar que isso pode acontecer, com certeza não irá.
PARTE 55 - O ATIVISMO
No meio disso veio um momento muito importante. Foram dois convites. O primeiro foi fazer parte do Coletivo Frente de Lutas e o segundo participar efetivamente da organização da 10º Parada Internacional do Orgulho LGBT daqui da cidade.
Tudo aconteceu bem na virada de novembro de dezembro de 2015. Ou seja, estávamos chegando a mais um 1º de Dezembro. Foi um fim de ano de muito ativismo. Primeiro tive meu ensaio fotográfico anual com diversas fotos explorando a liberdade de expressão de gênero, com cabelo, cores, peças de roupas que quebravam um pouco aquela imagem totalmente masculina e fotos com uma enorme bandeira do arco-íris.
Também fiz minha foto anual para campanha contra HIV/AIDS. Neste ano, foquei na importância do uso de preservativo como prevenção, já que estudos mostraram que mesmo com o número geral de novos casos terem diminuído no mundo todo, o número de jovens gays se descobrindo soropositivos estaria aumentando. Achei que seria prudente falar sobre isso. Mas confesso, me senti um pouco frustrado com a repercussão. Infelizmente existe uma constatação. São poucos soropositivos que compartilham postagens relacionadas ao HIV por ter medo de que as pessoas desconfiem de sua sorologia, que na maioria das vezes é secreta. Para completar, são poucos não positivos que compartilham esse material. Eu precisava de mais voz. Eu precisava falar mais alto, precisava que isso chegasse em mais pessoas.
Campanha anual de 2015: #usecamisinha
Foi na 10º Parada Internacional do Orgulho LGBT que eu vi a perfeita oportunidade. Como fui um dos organizadores, aproveitei o momento para falar sobre HIV e sobre Identidade de Gênero, não apenas na festa pré-Parada, como também após o próprio evento, para mais de 6 mil pessoas. Foi um momento lindo. Distribui material para toda aquela gente, e falar em um microfone no palco esclarecendo e informando. Mas uma coisa me incomodou muito: o fato de não ter minha sorologia aberta. Falar sobre HIV/AIDS e esconder minha própria condição me soava hipócrita. Eu precisava abrir.
Outros organizadores da 10ª Parada Internacional do Orgulho LGBT e eu, falando para cerca de 6 mil pessoas.
Tive certeza disso quando participei com o Coletivo Frente de Lutas para manutenção da Identidade de Gênero em nosso Plano Municipal de Ensino (PME). Lutamos durante uma semana com manifestações na Câmara de Vereadores da cidade, especialmente com os setores mais reacionários. Evangélicos estavam em massa, em sua maioria sem nem saber o que estavam fazendo lá. Eles diziam: “o pastor me mandou vir”. Quando por alguns momentos ficávamos próximo o que aparecia era um show de ignorância e preconceito. Começando pela nossos vereadores, quase na íntegra. Meu depoimento foi lido pelo vereador Marcelo Lemos, o mesmo que foi lido durante a votação do PME da cidade de Porto Alegre, pelo vereador Carlos Henrique Casartelli. Perdemos. Lá em PoA e aqui em Uruguaiana. Mas a minha força militante e ativista cresceu.
Dias de luta.
O apoio de meus amigos e familiares me mostraram que estava na hora de eu aplicar essa energia e toda essa coragem para falar de HIV e AIDS. Porém, eu tinha um grande obstáculo pela frente.


Continua...

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