segunda-feira, 17 de julho de 2017

HIV/AIDS - CONFISSÃO #28: APRENDI COMO VIVER COM O HIV

PARTE 62 - CARA LIMPA
Depois de alguns dias no anonimato, eu finalmente decidi me identificar como o autor da página Confissões de um soropositivo. Assim, alterei algumas notas colocando meu nome e me identifiquei como o escritor na foto de capa da page.
Agora sim, não tem mais volta. Tudo seria muito diferente. Finalmente saí deste segundo armário que me consumia. Finalmente levei meu ativismo a um outro nível. Sem vergonha, sem me esconder... Sem tabus, sou eu de cara limpa.
Logo já estava falando em vídeo conferências e levando informação para todo mundo que estivesse disposto a escutar. A resposta foi surpreendente. O carinho que recebi foi uma alavanca para seguir com esse trabalho e seguir falando sobre o HIV. Sim, meu nome é Leonardo Villela Cezimbra, eu sou soropositivo, eu não tenho nada do que sentir vergonha. O HIV faz parte de mim agora e precisei transformar isso em algo positivo, sem trocadilhos.
Então eu pensei, se aquele menino do Grindr não sabia ainda de minha sorologia, agora ele sabe. Agora não é mais comigo, agora é com ele.
PARTE 63 - FIM?
Ao decorrer da semana, percebi que aquele rapaz estava curtindo minhas notas. Isso me deixou muito feliz por um lado. Desta vez eu tinha certeza que ele sabia sobre minha sorologia, mas achei que qualquer outra oportunidade teria morrido. Afinal, quem se relacionaria com alguém abertamente portador do HIV? Quem abraçaria essa luta? Quem enfrentaria o estigma?
Ele fez. Novamente em um belo sábado ele me convida para tomar um café. Desta vez não deixei escapar e já marquei o dia. Nos encontramos, tomamos um café, caminhamos e nos abraçamos. No dia 16 de maio nos encontramos novamente e nos beijamos pela primeira vez. Partiu de mim.
Quando cheguei em casa excluí todos aplicativos de “pegação” que eu tinha no celular. De fato, já tinha encontrado o que procurava. Acho que naquele momento eu descobri que tinha encontrado o amor. Finalmente.
Passei 34 anos sem saber o que é isso. Um amor genuíno. Cá estamos em um relacionamento sorodiscordante. Com cuidados, com respeito e companheirismo. Cá estou, firme no meu tratamento, com carga viral zerada e CD4 alto. Cá estou, feliz, amando e trabalhando. Dando sequência em tudo como antes. Vida que segue.
O HIV me ensinou muitas coisas. Entre elas aprendi que tenho que me permitir. Tenho que deixar sentir. Tenho que viver. Cada dia. Cada momento. Me abrindo para o mundo para que ele se abra para mim.
No fim deste texto não terá a palavra “fim”, nem mesmo “continua”. Vamos deixar esse espaço aberto. Sabe por quê? Minha luta ainda não terminou.

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